Guiberto Genestra

Compreensão

Outubro/2003

Compreensão é a proeza de levar o bruto no prumo certo, ancorado na estrada com os pneus bem apanhados sobre o asfalto e os olhos, que veem de dentro da boleia, esbugalhados de atenção na sinalização à sua frente e ao seu redor.

É sentar com serenidade os pensamentos no meio fio dos miolos, ao invés de ficar vendo-os fritarem a sua frente ou a carga de sua paciência escorrer, levada por um fio d’água do córrego que nos acompanha, margeando a estrada.

Compreensão é um caldo quente numa noite fria. É esquentar as mãos, abraçando a cuia e deixar que os lábios faturem a fortuna, que o nariz capitalize o aroma e que o colo possa finalmente relaxar bem acomodado. Sentado ao pé do lugar depois de longa jornada.

O abismo da incompreensão é fácil notar. É quando o funil do tempo filtra as oportunidades, da mesma forma em que se tornam escassas as opções. Isso nos leva a poucas saídas, por estradas tortuosas e mal sinalizadas.

 

É preciso escolher o caminho da compreensão.
Compreender para poder prosseguir.
Compreender para poder aprender.
Fazer a escolha certa.
E cada um sabe o que é certo, e sabe o que é escolha.

Assim fica mais fácil entregar a carga ao final da viagem, ao alcance do seu destino. Receber o frete, carimbar o protocolo, pegar a segunda via do romaneio e tão logo engavetar as costas da carreta na borda esquerda de uma plataforma com seus conferentes carrancudos e ajudantes exaustos, mas não pouco dispostos ao trabalho.

Carregar, empilhar; dez, quinze, vinte toneladas de puro tesão, de muita inspiração e um pouco mais de compreensão que é para evitar o caos.

Correr o mundo
Correr fundo
Correr imundo.