Talita Rafaela Calvo Garcia
Zoológico de São Paulo
Aos 6 anos, fui ao Zoológico de São Paulo em uma excursão com o parquinho… Isso mesmo! Era assim que chamávamos a pré-escola, parquinho.
Meu parquinho era a E.M.E.I Vicente de Carvalho, localizado na Vila Paulicéia, bairro em que eu morava, em São Bernardo do Campo, cidade em que ainda moro. O uniforme era shorts ou calça azul, camisa quadriculada, um meião VERMELHO e um conga no pé… Eu detestava o shorts, pois tinha um punho que minha mãe fazia questão de subir bem para ficar fofo… Me sentia ridícula!
Bom, não me lembro do dia em que a professora falou do passeio, nem o porquê de irmos ao zoológico… Não lembro se estávamos estudando alguma coisa sobre os animais. Mas, lembro que minha professora era a Elisete, a da minha irmã era a Claudete e a diretora era a Vandete… achava esta rima o máximo!
Lembro que todas as manhãs, quando chegávamos ao parquinho, todas as professoras nos esperavam no “pátio” (não era bem um pátio, era um espaço coberto) e, conforme cada aluno chegava, sentava em fila, em ordem alfabética em frente a sua professora… Eu, Talita, sempre no final da fila… Quando dava o horário, ai sim todos se levantavam e nós cantávamos algumas musiquinhas antes de irmos para a sala.
Mas no dia do zoológico foi diferente… Minha sacolinha quadriculada, feita do mesmo tecido da minha camisa, estava recheada com um lanche delicioso que minha mãe havia preparado… Tinha uma latinha de coca!!! Era tão raro tomar coca de latinha… Minha mãe só comprou pro passeio. Fiquei maravilhada que eu ia tomar coca de latinha e não aquele leite, da merenda da escola, com caramelo que eu detestava… Quando falava caramelo eu achava que eram cogumelos e morria de nojo… não sei por que… conhecia cogumelos dos desenhos dos Smurfs e alguns que via no caminho para o parquinho e que nasciam nas árvores… Acho que é por isso que eu tinha nojo. Eu sentada, esperando dar a hora, só pensava no lanchinho…
Além da coca de latinha, minha mãe fez um misto frio: pão de forma com presunto e queijo...hummmm… que delícia!!! Mas… neste dia chovia… e começou a chover mais ainda. Então, adivinha o que aconteceu???!!! O passeio foi cancelado! Que tristeza… E o lanche? Eu ia ter que guardar?
Decidiram que tomaríamos o lanche na escola e que o passeio aconteceria no próximo dia, se o tempo estivesse bom. Informaram que o lanche seria fornecido pela escola. Que tristeza, novamente. Meu desejo era que a escola pedisse outro lanche para o dia seguinte.
No outro dia, conseguimos ir. Me recordo de poucas coisas do percurso… Não lembro nem quem estava ao meu lado. Só lembro que cantamos aquela musiquinha: Motorista; Motorista; Olha a pista; Olha a pista; Nela tem buraco; Nela tem buraco; Fom, fom, fom; Fom, fom, fom…
Quando chegamos ao zoológico, a professora insistia para que ficássemos juntos e carregava um saco de lixo preto na mão. Eu a obedecia, pois tinha pavor em me perder e pensava por que ela estava carregando aquele saco. Passamos por vários bichos, mas os que me marcaram foram: o elefante, o chimpanzé, o jabuti, o urso e a zebra.
O elefante, de cara triste e pele muito enrugada, achei que era também muito velhinho. Quando cheguei em casa e contei isso para minha mãe, ela gargalhou! (Só fui entender esta gargalhada anos depois, quando entendi que a pele de qualquer elefante é daquele jeito).
O chimpanzé estava muito agitado naquele dia e ficava jogando coisas.
O jabuti era enorme! Minha vizinha, a Rosa, tinha uma tartaruga e eu fiquei impressionada pensando na possibilidade de a tartaruga da Rosa crescer daquele jeito e morar na casa dela.
O urso ficava em uma jaula que olhávamos de cima. Tive medo de cair.
Agora, a zebra… Quando chegamos na jaula das zebras, estava um fedor horrível e também chegou a hora do lanche. O lanche que a escola mandou… Pão de leite com manteiga ou puro e para beber... Não lembro se levaram alguma coisa para nós bebermos, ou se o terror daquele lanche me fez esquecer… Terror porque a professora começou a tirar do saco de lixo o NOSSO LANCHE! Acredita? Que falta de cuidado… Será que ela não sabia que comemos primeiro com os olhos? Me deu uma saudade do dia anterior com minha coca de latinha e meu misto frio! E eu lá, naquele fedor, comendo um pão puro que saiu de um saco de lixo, olhando as fedorentas zebras…
E foi assim minha visita ao Zoológico de São Paulo. Foi isto que guardei daquele dia. Já se passaram 23 anos e eu nunca mais voltei lá, acredita?