Gladys Kupper Jorge

Fita Branca, personalidade autoritária e barbárie

O filme relata a história de uma aldeia chamada de Eichwald, localizada na Alemanha. A trama se passa no ano de 1913, às vésperas da Primeira Guerra Mundial. A vida na cidade parece normal e pacata, até que uma série de eventos estranhos começa a ocorrer na aldeia, alterando todo o seu cotidiano. O primeiro evento é um acidente. Um médico, habitante da aldeia, que a cavalgar a caminho de sua casa é ferido gravemente por um arame (um fio cortante e invisível), instalado sob duas árvores. O médico sofre um acidente seríssimo no qual o animal também é afetado e morre. A partir desse arame afiado e cortante é que se faz a busca pelo (s) responsável (eis) por esse e outros eventos que vieram a ocorrer naquela aldeia. A questão do arame é uma incógnita no decorrer da trama. Pergunta-se: Quem o teria posto? Por que tamanha perversidade? O que levaria uma pessoa a fazer isso? Por que também matar e afetar o animal? Ao assistir ao filme de Michael Haneke, A Fita Branca (Alemanha, 2009), não temos respostas a essas perguntas. Temos hipóteses, dúvidas, inquietação.

A primeira pessoa ao deparar-se com o fato ocorrido foi Anne, adolescente filha mais velha do Médico acidentado, que ficou desesperada ao saber do ocorrido e foi logo pedir ajuda a alguém da comunidade. A figura da Parteira aparece na sequência. Tinha um filho pequeno chamado Karli, que era deficiente mental, era solteira e espécie de governanta e assistente do Médico, encarregada também de cuidar de seus dois filhos menores. Klara e Martim (personagens-chave na trama, crianças em fase da puberdade) eram filhos do pastor, sempre estavam acompanhados por colegas que normalmente eram crianças mais novas e outros de suas respectivas idades. Nota-se no início a presença de quatro crianças na cena em companhia de Klara. Esta ao encontrar com a parteira demonstra-se muito preocupada em saber da saúde do médico. Parecia afobada, mas sempre muito bem educada e prestativa; observa-se que após um curto espaço de tempo, não estando satisfeita com a resposta que obtivera sobre a saúde do médico foi com o seu grupo de amigos até a casa de Anne para saber mais detalhes sobre o acidente.

O arame, que foi posto ali com a intenção de ferir e de matar e foi rapidamente retirado da árvore, sem deixar suspeitas. Foram feitos questionamentos pela polícia, mas ninguém de fato sabia quem o retirou. O fio era de um corte muito preciso e quem o instalou e o escolheu sabia de sua precisão, pois aquele arame em específico era um instrumento que compararíamos a uma arma branca e letal. Naquele momento, o que restou foi à marca de um corte que ficou no tronco da árvore. Depois desse incidente, a vida na aldeia aparentemente prosseguia normal e com sua rotina pacata, mas não demorou muito para que outro evento voltasse a ocorrer.

Após o acontecido com o médico, ocorre outro acidente fatal na serralheria da aldeia. A esposa do Lavrador (funcionário do Barão) fora brutalmente assassinada ao pisar em falso entre madeiras colocadas em seu posto de trabalho. O trabalho na serralheria era imposto e calculado para que pessoas fracas pudessem realizá-lo. Um ato proposital no qual fora selecionada uma vítima, justamente uma mulher que não representava nenhuma ameaça para aquela sociedade, apresentava uma imagem fraca e submissa, que não iria fazer falta alguma, ou seja, se estivesse viva ou morta tanto faria. Mas logo o Administrador da aldeia se encarrega de livrar-se do corpo, naquele instante, ali mesmo na serralheria. Um alvo perfeito, sem deixar suspeitas para um acidente ou crime (quem nesse momento sabe?) que jamais seria questionado.

Todas as crianças e adolescentes ali presentes: Klara, Martim e os irmãos mais novos (filhos do Pastor), Karli (o filho deficiente da Parteira), Felder e seus irmãos (o filho do Lavrador e funcionário do Barão), Erna (filha do Administrador), Eva (funcionária da Baronesa), etc., desde muito novos, ainda bebês já nasceram em um ambiente promíscuo e conviviam com o autoritarismo e a repressão dentro de seus lares. Para eles, as atitudes de seus pais eram atos normais e elas já estavam acostumadas a conviverem com tamanha imoralidade e perversidade. Começamos a supor que elas reproduziriam aquilo que viam seus pais fazerem. Essas crianças, conforme iam crescendo, conviviam com pais que ditavam e afirmavam um discurso para que não se apegassem a nada, para serem frios e calculistas.

Seguiremos com o personagem do Pastor protestante, casado e pai de seis crianças (entre elas Klara e Martim), cuja personalidade é de suma importância. Sua imagem vincula-se a um líder religioso, um homem enérgico que repreendia seus filhos de uma forma manipuladora que causava muito medo e revolta. Além de Eichwald, pregava em outras comunidades próximas à aldeia.

A educação dada pelo pastor resultou em reflexos dramáticos, problemáticos e irreversíveis na formação dessas crianças, principalmente com os mais velhos, que estavam entrando na fase adolescência. Naquele ambiente são retratados atos de ódio, ira, intolerância e a fúria enraizada no ser humano. A figura da mãe além de ser de uma mulher submissa e condicionada, involuntariamente reproduzia tudo o que seu marido fazia de perverso com as crianças. Em sua ausência também batia furiosamente em Klara e Martim e os humilhava muito, não apresentava nenhum tipo de sofrimento e arrependimento. As crianças já sabiam que iam apanhar em um determinado momento.

Nota-se que Martim já apresentava algum distúrbio físico e emocional, pois muito novo já pensava em suicídio. O professor ao estar de passagem e coincidência naquele lugar, flagrou-o andando sozinho equilibrando-se sobre a alça de uma ponte em um riacho, deixando-o muito preocupado com o que viu. O risco que Martim corria não era pelo fato de se afogar, pois o riacho era raso. A preocupação do professor foi em relação à altura da alça da ponte. Caso o menino caísse de lá poderia se ferir gravemente e até quebrar o pescoço vindo a morrer. O garoto com muito medo pede para o professor não comentar nada com seu pai. Prometendo não repetir tal ato e não retornar àquele lugar.

Martim, como outras crianças, estava na fase da puberdade, da adolescência, da descoberta de seu corpo, do conhecimento do novo e do prazer. O pai em uma conversa particular o ameaça, o reprime, impõe medo e associa o ato de conhecer seu corpo com doença e morte. Usa o termo “molestar os nervos sensíveis do corpo”. Freud, em o Mal-estar na Civilização já afirmara que a sociedade europeia na época psicologicamente desaprova as manifestações da vida sexual infantil. As satisfações extragenitais são chamadas e reprimidas como perversão.

Na primeira infância, as crianças conviveram permanentemente com a presença da personalidade autoritária em suas vidas. Interiorizaram tudo o que vivenciaram de negativo com os pais: a agressividade, violência moral, física, a perversidade.

Além das crianças, analisam-se também em maior destaque no filme, figuras de personagens femininas que habitavam aquela comunidade. Como já mencionei, os homens exercem relações de poder e as mulheres representam papeis sociais que lhes foram designados. Papéis de mãe e donas de casa. Vivem para agradar seus maridos, educar seus filhos e administrarem suas casas.

A forma de sobrevivência na aldeia era a agricultura, o mês de julho era de colheita farta, devido ao fato de o tempo estar mais quente e o solo fértil. Mas o trabalho em si era muito pesado e exigia muito dos trabalhadores. Assim, conforme a vida na aldeia prosseguia, esporadicamente eram promovidas festas regradas a muita comida, música e bebidas. Momento raro e único, pois era uma forma de distrair aquela população com uma falsa recompensa; tinha a finalidade e objetivo de deixá-los cegos, de não enxergarem a realidade que era assustadora. Durante a festa, em um momento em que todos estavam se divertindo, o filho da lavradora morta na serralheria aproveitou a distração da população, saiu sem ninguém perceber, dirigiu-se rumo à plantação de repolhos e em um momento de fúria incontrolável, revolta e ódio, destruiu toda aquela plantação que supriria e abasteceria a comunidade.

Em novembro, chegara o inverno europeu e era muito rigoroso... No culto, todos estavam cabisbaixos e com roupas escuras. O Administrador da aldeia tinha quatro filhos. No quarto do recém-nascido, a janela fora deixada aberta propositalmente com o intuito de a criança ficar doente e posteriormente vir a morrer devido às temperaturas baixíssimas do inverno. Seus filhos em particular os meninos eram amigos e andavam com Klara e Martim.

Klara por ser a mais velha de todos, era quem sempre estava à liderança de tudo, nota-se que transmitia uma imagem doce, sua beleza era fascinante e encantadora, típica de uma adolescente europeia, sempre aparentava fingindo estar muito preocupada com os acidentados e com as mortes. Como sua perversidade e crueldade era tamanha, só ficava aguardando uma provocação. No grupo, com os amigos apresentava-se ágil, dinâmica, com expressão rígida e muita firmeza ao falar. Era a única que tinha uma postura ereta, de líder inata, a raiva que ela sentia de seus pais era reveladora e conforme convivia na sociedade com as outras crianças, sua perversidade extravasava cada vez mais. Martim sempre apresentava uma postura submissa à irmã embora aprendesse tudo com ela, a entendia só pelo olhar. Com os irmãos e o grupo em si, Klara comunicava-se através de códigos, que somente eles conheciam.

Fita branca significa: inocência e pureza. As fitas brancas eram presas aos corpos e cabelos das crianças como uma forma de remissão aos pecados. Eram compensadas com castigos físicos, abusos sexuais, repressões, autoritarismo e noites de amarras nas camas. Punição e maus tratos que as crianças recebiam de seus pais dentro de suas casas, nas quais os castigos eram disfarçados de amor e de cuidado. Tais fitas brancas que o Pastor mandava sua esposa colocar em seus filhos como uma forma de punição, de lembrarem-se dos pecados que cometeram e que viriam a cometer. Punição pela alegação da proibição pelo pecado carnal, por amarrarem as mãos dos meninos adolescentes ao conhecerem seu próprio corpo.

Outro acidente seríssimo viera a ocorrer na aldeia. Foi planejado e executado com a finalidade de atingir diretamente a figura do Barão, e as esferas do poder. Quem o cometeu teve a intenção de provocá-lo e mexer com todos os conceitos morais da aldeia, pois o filho mais velho do Barão, Sigi, que aparentava ter aproximadamente seis anos, havia sido molestado sexualmente e fora espancado. Ao ser encontrado, estava muito debilitado, ferido e machucado.

A Baronesa, ao presenciar o sofrimento de seu filho, resolveu sair do país, fora para Itália com as crianças e seus criados. Em meio a esse turbilhão, após o ocorrido com Sigi, Eva uma jovem adolescente que era funcionária da Baronesa é despedida da fazenda e volta para a casa de seus pais. Em seu retorno, seu pai encarrega-se de arrumar outro emprego para a moça. Eva é vista como um empecilho, pois para ele, o fato de ela retornar era uma despesa a mais devido ao fato de ter muitos filhos para sustentar. Com um longo interrogatório, procura através de interesses programar e planejar o casamento da filha com o Professor.

O médico também recebe alta do hospital e volta para a casa, havia quebrado o braço no acidente e é recepcionado por Anne. Seu filho naquele instante era a última pessoa que queria ver era o pai, pois estava com muita mágoa e jamais perdoaria o fato de seu pai ter escondido fatos sobre a morte da mãe. O médico vai ao local do acidente, ajoelha-se e examina as árvores nas quais o arame foi colocado. Em um ato inesperado já de madrugada, seu filho (essa mesma criança) acorda sentindo a ausência da irmã no quarto, anda por toda a casa no escuro e ao entrar em um aposento no piso inferior onde à porta estaria encostada flagra o pai em ato de incesto abusando sexualmente de sua irmã Anni.

A Parteira era também a sua amante. Karli na realidade era seu filho bastardo que sempre fora rejeitado e negado por ter nascido fora do casamento e ser deficiente mental. Sua postura era de um homem sádico, violento e agressivo. Todas as noites ao se deitar, as mãos de Martim eram amarradas na cama. No dia seguinte, o Lavrador aparece morto e enforcado.

O inverno acaba e o ano também, a vida em Eichwald seguia na mesmice, conformada, conforme Deus queria... Após ter saído de cena por um determinado período, a Baronesa retorna à aldeia. Como o Pastor aplicava as aulas de catecismo na escola, Klara ao ver seu pai chegando com o professor na direção da escola imediatamente sai correndo entra na sala de aula, dá um grito de comando para as crianças se separarem. O Pastor e o Professor a flagram. o pai sem pudor a repreende puxando suas orelhas, a expõe na frente dos demais colegas e a coloca no canto da sala, isolada, virada de costas, contra a parede. No momento em que a classe estava em oração, Klara cai e desmaia. Em casa, aproveitando a ausência de sua família, em um momento de muita fúria, dirige-se ao escritório do pai, pega uma tesoura, abre a gaiola e mata cruelmente um pássaro de estimação. Aquele ato isolado, não a satisfaria, Klara faz questão de colocar o animal morto, em cima da mesa do pai para que ele visse quando chegasse. O professor ao ir até a casa do Administrador é recebido por Erna (filha), que estava cuidando do irmão bebê. A mesma comenta que prevê um acidente que está prestes a acontecer com Karli (a criança deficiente filho da Parteira), diz ter tido um sonho, mas na realidade não foi. O professor ao ouvir aquele relato de um sonho que poderia virar realidade, fica muito preocupado e atento.

O objetivo da crisma era a remissão dos pecados quando as fitas brancas eram retiradas. As crianças sempre muito caladas não apresentavam nenhuma suspeita para a aldeia. Sem esperar, outro acidente gravíssimo ocorre na calada da noite. Os olhos de Karli são feridos gravemente em um ato de brutalidade e perversidade imensurável. Uma brecha que foi minuciosamente calculada... Quem cometeu tal ato agiu intencionalmente para deixá-lo cego, foi alguém que sabia quando o menino ficaria sozinho e isso era comum na rotina da família da Parteira. De todos os crimes retratados no filme, poderemos considerar esse o mais grave. Essa criança foi o alvo perfeito, jamais contaria a alguém em detalhes o que aconteceu e jamais alguém ficaria sabendo de algo. Era indefesa e estava sempre a mercê dos cuidados dos outros. Seu personagem é um reflexo de um futuro tão próximo que estava por vir, pois os deficientes mentais com a ascensão do Nazismo serviram como experimentos para os médicos da SS nas câmaras de gás onde houve um extermínio sistemático.

Nessa etapa, será de suma importância relembrar o início da trama, analisar o primeiro acidente que ocorreu na aldeia com o médico e o cavalo para posteriormente procurarmos elaborar uma hipótese sobre quem colocou aquele arame entre as árvores. Observa-se que nas primeiras cenas existe um grupo formado por crianças. A princípio por quatro. Conforme a trama vai criando forma e se desenvolve, o grupo aumenta, em um momento chega a ter dez crianças. Freud conclui que o EGO busca o prazer na luta com o exterior estranho e ameaçador. Existem sofrimentos que nos proporcionam prazer e por isso o EGO não os abandona. Para Freud o indivíduo se identifica com a norma do grupo como uma forma de proteção (FREUD, 2011). Adorno desenvolve o conceito de seres autodeterminados para se referir aos indivíduos que aderem ao coletivo de corpo e alma. Esses indivíduos, embora humanos, se tornam algo como material e tratam os outros como uma massa informe, indefinida. São considerados aqueles tipicamente de caráter manipulador, característica de líderes nazistas (ADORNO, 1995). O Nazismo foi o primeiro “movimento” de massa. Adorno classifica esses indivíduos como tipo de consciência coisificada e explica: são primeiramente indivíduos iguais às coisas e após o objetivo alcançado esses indivíduos tornam os outros iguais às coisas, ou seja, estes não possuem valor algum.

Todas as crianças sentiam algum prazer em presenciar e visualizar as torturas cometidas e o sofrimento alheio da comunidade. Estavam sempre expostas ao ócio, ficavam irritadas por qualquer motivo até mesmo com os próprios colegas do grupo, cena em que o filho do Barão Sigi, que estava recuperando-se de um grande trauma, ao brincar a beira do riacho, inocente, tocando sua flauta, apanha inesperadamente sem nenhum motivo e é jogado na água por ter irritado dois amigos. O Administrador como trabalhava para o Barão, ao descobrir o ocorrido, imediatamente vai para sua casa, entra no quarto de seu filho que finge estar estudando. O garoto fica surpreso ao ver o pai e tenta desafiá-lo não aceitando os questionamentos. O mesmo sem medir consequências o espanca brutalmente na presença da esposa, que se cala mediante a situação.

Qual resposta se poderia encontrar para tamanha perversidade? Seriam as crianças, os adultos? Seriam os grupos, a pedido de Klara quem colocaria o arame entre as duas árvores? Ou Klara, Martim que teriam agido isoladamente? Na possibilidade de se darem mal e sofrerem punição, as crianças aprenderam a ser dissimuladas e sarcásticas. Essa sociedade alemã retratada no filme queria mostrar uma moral que de fato apenas aparentava, bem como aparentemente os cidadãos eram tidos como confiáveis.

O Professor, por sua vez, sempre se mostrava presente, preocupado com as crianças e a educação, tinha um vínculo de compromisso com a sua profissão e com aquela comunidade em si. Toda vez que as crianças eram surpreendidas por ele, em um ato de curiosidade ou de realmente terem a certeza de que executaram o serviço bem feito, eram flagradas escutando as conversas atrás das portas e ficavam olhando sob as pontas dos pés penduradas nas vidraças.

Destoa desse grupo a figura da Baronesa que se apresenta como uma jovem senhora, delicada e culta, mas que teve uma percepção precoce e impecável em relação ao que estava ocorrendo na aldeia e propriamente dentro de sua casa. A maneira intolerável de como seu esposo a tratava, sempre com grosseria, palavras ásperas, questionando frequentemente seu comportamento e suas atitudes perante aquela sociedade. Vínculos de compromisso pela atitude que teve ao querer ir embora daquele lugar por três vezes, após ver seu filho sofrer agressão sexual e física e ao apanhar por causa de uma flauta. Queria livrar-se da violência, inveja, maldade e ignorância, não queria que seus filhos crescessem naquele ambiente, chamando seu marido, o Barão, de sarcástico. Pede o divórcio, alegava que havia se apaixonado por outro homem.

Naquele momento quem pronunciasse a palavra Guerra seria severamente repreendido. O professor presencia uma grave discussão da Parteira com o Médico, a mesma diz que sabe quem são os culpados pelos crimes e disse que foi Karli que a contou quem havia feito aquilo com ele. A Parteira descontroladamente perde a paciência e em uma explosão sentimental pega a bicicleta do Professor e diz que vai para a cidade, contar tudo para a polícia. A essa altura, o consultório do médico estava trancado e o mesmo o havia abandonado levando seus filhos.

O que ocorreu com Karli foi à gota d’água e levou o Professor a tomar uma atitude surpreendente. Resolve investigar Klara e as demais crianças. Foi até a casa do Pastor para esclarecer os fatos e falar diretamente com as crianças. Ao questionar Klara e Martim, fazia várias perguntas demonstrando toda sua indignação, alegando que eles estavam lhe escondendo algo. Relembrava-os desde o primeiro acidente que ocorrera na aldeia, afirmando que eles estavam presentes naquela tarde no jardim da casa do Médico, quando o arame foi posto e afirmou que Karli sempre estava junto à companhia deles. Klara faz cena e diz que o pai sempre alegou que quem faz isso é uma pessoa doente. A menina impaciente e aparentemente nervosa pede para que o Professor fale diretamente com seu pai. O Professor naquele momento teve a iniciativa de conversar diretamente com o responsável (Pastor) e ao enfrentá-lo, não apresentava insegurança, nem medo. Expôs todos os fatos e o Pastor em sua retórica procurava defender seus filhos negando o ocorrido acusando o Professor de ter uma mente doentia, que não poderia trabalhar mais naquela região. Determina que ele não comente o ocorrido com ninguém e diz que caso isso acontecesse iria denunciá-lo e mandá-lo prender.

A Parteira desaparece da aldeia, Karli ficara ali por um determinado tempo sozinho, mas logo alguém se encarrega em desaparecer com o menino. As revelações começam a surgir, mas sempre ocultas com conversas paralelas e dispersas. Àquela altura, prestes a ocorrer uma guerra, ninguém daria a cara a bater. A aldeia comentava que a Parteira e Médico eram assassinos natos, que sempre foram amantes, pois planejaram minunciosamente a morte da esposa, que não fora de causa natural e culpam a deficiência de Karli como decorrente de um aborto mal sucedido. A aldeia aparentemente se convence de que foram eles que cometeram todos aqueles crimes. Em nenhum momento, as crianças são mencionadas.

Em 28 de julho, a Áustria declara guerra à Sérvia, quatro dias depois a Alemanha declara guerra à URSS e à França.

Missa dominical. Adianta-se o casamento do Professor com EVA. O Pastor cala-se e não o denuncia. Alguns anos depois, termina a guerra, o Professor assume a alfaiataria do pai que faleceu e vai embora da aldeia sem nunca mais ver ninguém.

E, na aldeia a vida continua...

Referências Bibliográficas

ADORNO, Theodor W. Educação e emancipação. Tradução Wolfgang Leo Maar. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995.

FREUD, Sigmund. O mal-estar na civilização. Tradução Paulo César de Souza. São Paulo: Penguim Classics Companhia das Letras, 2011.

SILVA, Franklin Leopoldo e. A perda da experiência da formação na universidade contemporânea. Tempo Social; Rev. Sociol. USP, S. Paulo, 13 (1): 27-37, maio de 2001.